Sem dúvida uma surpresa incrível. Este queijo, tão saboroso, não é um produto oriundo de uma longa tradição. Não, é simplesmente uma ideia genial de uma queijaria industrial.
Eu conhecia este queijo azul feito com leite de vaca pasteurizado há muito tempo. Um sabor forte e suave ao mesmo tempo, um queijo que deixa lembranças na boca como nenhum outro. Um dia, tive a ideia de procurar pelo santo chamado Agur e descobri que nunca existiu tal santo. E muito menos uma aldeia de Saint-Agur de onde poderia vir este queijo.
Não existe aldeia de Saint-Agur
O facto de não existir uma aldeia de origem para este queijo não significa que não existe uma região onde este queijo é produzido. Tal como o Saint-Nectaire, o Saint-Agur é um queijo produzido na Auvergne, grande terra de queijos, na região histórica de Velay. Mas essa produção não é uma obrigação, pois este queijo não está associado legalmente a uma terra em particular. Ele até poderia ser produzido no estrangeiro !
Para quem quer saber, em Velay produz-se o “Fromage aux artisons”, chamado comercialmente de “Velay”.
Saint-Agur, queijo industrial
Quando falo de queijo industrial, é mesmo porque este queijo é uma pura invenção moderna, que não está associada, como vimos, a uma longa tradição. Por mais bom que seja o Saint-Agur, ele não poderá nunca ser um queijo DOP, visto que ele não tem uma terra de origem.
Esta falta de história, que pode ser um verdadeiro problema para os amantes de queijo, é largamente compensada pela distinção “sabor do ano” que recebe regularmente. Esta distinção é feita por pessoas que vão provar “às cegas” um produto, sem saber de onde vem. Só tem de dizer se gostam. Este galardão por mim, vale qualquer DOP. Não existe outro critério que o sabor. Nada de história, nem mesmo do bem ou mal que pode fazer para a saúde.
Uma (breve) história do Saint-Agur
Foi em 1988 que este queijo nasceu, na “fromagerie de la Vallée de l’Ance“, na aldeia de Beauzac. Foram necessários 3 anos de pesquisa para que os mestres encontrem a melhor fórmula para este queijo azul. Eles queriam um queijo que tivesse todas as qualidades dos queijos azuis, sem as críticas que lhes são feitas habitualmente: “demasiadamente forte” ou “demasiadamente seco”. Conseguiram ter um queijo cremoso e forte, suave e firme, conseguiram algo de impossível!
O sucesso foi tal que é hoje o queijo azul mais consumido de França. A frente de queijos tão conhecidos como o Roquefort ou o Bresse Bleu. A sua forma ao sair das caves é octogonal, para dar ainda mais originalidade a este produto tão diferente da produção tradicional. A embalagem em alumínio não deixa margens para dúvidas quanto à sua origem industrial. Para mais, o alumínio impede a formação de casca.
A casa-mãe da fromagerie do Saint-Agur, Savencia Fromage & Dairy (antigamente Bongrain) é o segundo grupo francês especializado em queijos. O grupo comercializa uma marca bem conhecida dos portugueses, o “Caprice des Dieux”.
O que comer e beber com o queijo Saint-Agur?
Existem duas escolas. Aqueles que vão beber um vinho do Porto ou Moscatel, e aqueles que vão beber um vinho branco, talvez um Vouvray. A experiência pode ser radicalmente diferente consoante a escolha.
O Saint-Agur é um óptimo queijo para cozinhar, combinando-se muito bem com um risotto ou com mexilhões entre tantos outras possibilidades. Mas para mim, que gosto de coisas simples, uma simples fatia de pão rústico (ou de “Campagne”) basta-me perfeitamente.
Onde comprar Saint-Agur ?
Apesar do queijo ser industrial, ele não se encontra facilmente em Portugal. A empresa que o produz não deve ter achado ainda interesse pelo mercado português, apesar de encontrar-mos em terras lusas o Caprice des Dieux, da mesma empresa. Eu cá acho que é pena, já que encontramos em qualquer Pingo Doce ou Continente Bom Dia o seu primo Roquefort. Ou seja, o potencial para vendar muitos Saint-Agur existe. Se quiserem, podem pedir ao representante das marcas da Savencia Fromage & Dairy em Portugal (e Espanha) para que façam algo mais pelo Saint-Agur: http://arias.es/portugal/as-nossas-marcas/saint-agur
